Pesquisadores da França afirmaram que o tratamento
rápido logo depois da infecção pelo HIV pode ser suficiente para causar,
em até 15% dos pacientes, uma "cura funcional" – quando o vírus, apesar
de não desaparecer do organismo, entra em remissão e o paciente não
precisa mais de remédios.
Os cientistas do Instituto Pasteur, em Paris,
analisaram os casos de 14 pessoas que receberam o tratamento precoce e
depois pararam com a terapia. O vírus da Aids, nestas pessoas, não deu
sinais de voltar a se proliferar.
O grupo de pacientes começou o
tratamento em um período de cerca de dez semanas após a infecção pelo
HIV. Eles obtiveram o diagnóstico precoce pois foram ao hospital tratar
de outros problemas, e o HIV foi detectado no sangue.
Em média, o grupo recebeu o tratamento com antiretrovirais durante três anos e então a medicação foi interrompida.
Normalmente, quando o tratamento é suspenso, o
vírus retorna. Mas isto não ocorreu com este grupo de pacientes. Alguns
deles, por exemplo, conseguiram controlar os níveis de HIV durante uma
década.
"A maioria dos indivíduos que seguem o mesmo
tratamento não vai controlar a infecção, mas existem poucos que vão",
afirmou Asier Saez-Cirion, do Instituto Pasteur.
A pesquisa foi divulgada na publicação especializada PLoS Pathogens,
e a divulgação do progresso deste grupo de pacientes da França ocorre
depois da notícia da cura de uma bebê depois de um tratamento precoce
nos Estados Unidos.
'Remissão'
Segundo Saez-Cirion, ao atacar o vírus logo depois da infecção, entre 5% e 15% dos pacientes podem ter a cura funcional. "Eles ainda têm o HIV, não é uma erradicação do HIV, é um tipo de remissão da infecção", disse.
O estudo realizado pelo Instituto Pasteur analisou o que aconteceu com o sistema imunológico dos pacientes.
O tratamento precoce pode limitar o número de
esconderijos inacessíveis do HIV no organismo. Mas os pesquisadores
afirmam que ainda não foi esclarecido porque apenas alguns pacientes
conseguiram a cura funcional e outros não.
Andrew Freedman, médico e professor da Escola de
Medicina da Universidade de Cardiff, que ministra aulas sobre doenças
infecciosas, afirmou que as descobertas são "interessantes", mas ainda
há muita incerteza.
"Se eles vão controlar (o vírus) para sempre ou
se vai ser por alguns anos e, subsequentemente, (...) o vírus vai
reaparecer, não sabemos", disse.
Deborah Jack, da ONG britânica AIDS Trust, que
se dedica a campanhas relacionadas ao HIV, afirmou que a descoberta do
Instituto Pasteur dá ainda mais importância do tratamento precoce.
"Isto apenas destaca a importância das pessoas
fazerem exames e serem diagnosticadas cedo. Atualmente, metade das
pessoas que vivem com o HIV na Grã-Bretanha foram diagnosticadas tarde,
indicando que eles podem ter sido infectados há cinco anos", afirmou.
Com informações da BBC Brasil