Por Míriam Leitão
O governo está diante de um dilema difícil: se reajustar o preço da
tarifa de energia para pagar os custos mais elevados do sistema, vai
bater na inflação e afetar politicamente o governo. Mas se ele pagar
toda a conta, já maior do que estava previsto no Orçamento (R$
9 bilhões), haverá uma piora das contas públicas.
Como esse foi o verão mais difícil, choveu menos, o calor foi grande, o
consumo aumentou, as termelétricas estão a todo vapor e parte da energia
não estava contratada, o custo aumentou. E tudo isso eleva o custo de
manutenção da ideia de que o governo possa manter com recursos públicos
uma tarifa mais baixa, como a presidente anunciou no ano passado.
Se o governo colocar tudo isso na conta do Tesouro, pioram as contas
públicas e, com isso, a desconfiança em relação ao Brasil. Estão olhando
"com lupa" os nossos números, com medo de que o país tenha mais
dificuldades fiscais, aumente a dívida pública.
Se o Brasil for rebaixado, haverá impacto no custo de financiamento do
país, na entrada de capital estrangeiro que financia o déficit em
transações correntes.
Se
passar a conta para o consumidor, além de ele não ficar satisfeito, vai
parecer contraditório com o discurso político eleitoral da presidente.
Em 2013, Dilma anunciou como uma benesse a redução do preço da energia,
que beneficiou grandes empresários e consumidores. À época, ela fez um
discurso muito politizado. O que fez foi criticado, porque estava
reduzindo o preço da energia quando ele estava aumentando.
Economicamente, isso é inviável.
Como a presidente politizou o assunto, se repassar o preço da energia
para o consumidor, entrará em contradição com o seu discurso político.
Por outro lado, se o Tesouro pagar o preço, as contas públicas terão uma
piora e aumentará o risco da desconfiança em relação ao Brasil.
É um dilema que não tem solução fácil.
O governo está falando em passar metade da conta para o consumidor, mas só em 2015, depois das eleições.