Por Frederico Goulart
Além dos efeitos diretos na saúde da
população, o surto de zika vírus, que atinge em cheio o Nordeste
brasileiro, também deve causar efeitos negativos em uma das principais
atividades econômicas da região nessa época do ano: o turismo.
Especialistas do setor já admitem que são grandes as chances de
cancelamento nas reservas em hotéis e pacotes turísticos, especialmente
por famílias formadas por gestantes e e crianças. Embora em alguns dos
principais destinos os registros de queda na procura ainda não sejam
significativos, o temor é de que os números de casos de microcefalia na
região, que não param de crescer, anda causem uma onda de medo nos
turistas.
Para conter esse movimento, alguns estados e instituições
privadas iniciaram programas e cursos de preparação a guias turísticos e
as secretarias de Saúde tomam medidas emergências para atender à essa
demanda. Pernambuco, estado com o maior número de casos de microcefalia
no país, é o local onde há mais preocupação. Ao todo, já foram
notificados 646 casos de crianças com microcefalia com possibilidade de
relação com o zika vírus no estado - mais da metade de todos os
registros do país. De acordo com o presidente da Associação Brasileira
da Indústria de Hotéis no estado, Artur Maroja, os cancelamentos já têm
acontecido.
'Nós temos recebido muitas ligações de
turistas procurando informações de como anda a situação em Pernambuco. E
nós temos procurado esclarecer que o estado e os municípios já estão
fazendo um combate de maneira bem efetiva.'
A esperança do setor está depositada no
fato de regiões como Porto de Galinhas, Recife e Olinda não serem alvo
de chuva nessa época do ano - o que favorece o combate ao Aedes
aegypti.
'A gente está numa época do verão que,
no Nordeste do Brasil, é uma época de pouca chuva. Então a proliferação
do mosquito é menor, porque como não há chuna, não há água parada. Então
isso é uma coisa que já é benéfica para o turismo.'
Em Fortaleza, os impactos também já são
visíveis, como prevê Júlio Almeida, sócio de uma agência de viagens
especializada em turismo receptivo.
'Sem dúvida vai prejudicar. Vai afetar.
Até porque muitas famílias vão deixar de vir. As grávidas com certeza
não virão. Vão cancelar as viagens. Mas os guias eles vão acalmando o
pessoal, falam que o foco aqui é menor, ainda não está na estação
chuvosa. Então, os guias nos passeios vão tentando acalmar o pessoal em
relação a isso.'
A rede hoteleira ainda mantém a previsão
positiva. Segundo o presidente regional da Associação Brasileira da
Indústria de Hotéis, Darlan Leite, a alta do dólar e a consequente
dificuldade de se viajar para o exterior pode minimizar o impacto no
Ceará.
'No final do ano a expectativa é de que a
gente chegue ao patamar de 100%. E em janeiro. Tem alguns motivos que
favoreceram o turista brasileiro viajar internamente que foi a alta do
dólar. Tá caro para o brasileira viajar para o exterior.'
O ministério da Saúde investiga 40 casos
de microcefalia no estado do Ceará. O órgão já confirmou um óbito em
consequência da doença. O governo do estado garantiu que uma série de
medidas estão sendo tomadas para evitar a proliferação do mosquito
transmissor. Segundo a Secretaria do Turismo, os servidores de todos os
municípios receberam treinamento para uso de 87 pulverizadores que já
foram disponibilizados. Na Bahia, 86 recém-nascidos foram diagnosticados
com microcefalia até o último dia 3 de dezembro: 53 casos em Salvador e
os outros espalhados por 30 municípios. No entanto, o presidente da
Associação Brasileira da Indústria de Hotéis na Bahia, Manoel Garrido,
não acha que a procura pelo estado será afetada.
'A procura em Salvador está boa, tanto
para o Rèveillon como para o mês de janeiro e o carnaval, próximo aos
90% de ocupação. Não há nenhum tipo de temos. As autoridades estão
atentas.'
Apesar disso, a Secretaria de Saúde
montou um Centro de Operaçoes de Emergências, que vai acompanhar o
quadro epidemiológico, além de prestar assistência aso turistas em caso
de necessidade, como explica o Secretário Estadual da Saúde, Fábio Vila
Boas.
'O Centro de Operações de Emergência de
Saúde contempla a participação de diversas secretarias do estado da
Bahia, órgãos de auxílio à emergência, como Defesa Civil e especialistas
convidados, como pediatras, obstetras especialistas em medicina fetal.'
Mesmo com os altos índices do zika vírus
no Nordeste, o Ministério da Saúde afirma que não há nenhuma
recomendação para que qualquer pessoa, mesmo as gestantes, deixem de
viajar para a região. A pasta ressalta, no enanto, a necessidade de
reforço às medidas de prevenção ao mosquito Aedes aegypti, com o uso de
repelentes indicados para o período de gestação, o uso de roupas de
manga comprida e todas as outras medidas para evitar o contato com
mosquitos. O ministério também orienta que, independentemente do destino
ou do motivo, toda grávida deve consultar o seu médico antes de viajar.