Uma semana
depois de a executiva do PT de Ribeirão Preto (SP) aprovar, por
unanimidade, abertura de procedimento para expulsão de Antonio Palocci
da legenda, o ex-ministro dos governos Lula e Dilma encaminhou ontem
(26) à presidente nacional da sigla, senadora Gleisi Hoffmann (PR), uma
carta em que pede desfiliação do partido e acusa Lula de “sucumbir ao
pior da política”.
No
documento de quatro páginas, Palocci, que negocia acordo de delação
premiado com o Ministério Público Federal, reiterou as acusações feitas
em depoimento ao juiz Sérgio Moro no dia 13 deste mês e ainda sugere que
o PT firme um acordo de leniência “reconhecendo as graves falhas e
enfrentando a verdade”.
“Estou
disposto a enfrentar qualquer procedimento de natureza ética no partido
sobre as ilegalidades que cometi durante nossos governos, as razões e as
circunstâncias que me levaram a estes atos e, mesmo considerando a
força das contingências históricas, suportar pessoalmente as punições
que o partido julgar cabíveis”, diz trecho do documento.
Na carta,
Polocci, que ajudou a fundar o PT, diz que recebeu o procedimento de
expulsão com “estranheza”. “Enquanto os fatos me eram imputados e eu me
mantive calado, não se cogitava minha expulsão. Ao contrário, era
enaltecido por um palavrório vazio. Agora, que resolvo mudar minha linha
de defesa e falar a verdade, me vejo diante de um tribunal inquisitório
dentro do próprio PT. Qual critério do partido?”, questiona.
No
documento, o ex-ministro pergunta ainda até quando os correligionários
acreditarão “na autoproclamação do 'homem mais honesto do país' enquanto
os presentes, os sítios, os apartamentos e até o prédio do Institulo
Lula são atribuído à dona Marisa?”, em referência ao ex-presidente.
“Quero
adiantar que, sobre as informações prestadas (compra do prédio para o
Instituto Lula, doações da Odebrecht para o PT, ao Instituto Lula,
reunião com Dilma e Gabrielli sobre as sondas e a campanha de 2010), são
fatos absolutamente verdadeiros. Situações que presenciei, acompanhei
ou coordenei, normalmente junto ou a pedido do ex-presidente Lula. Tenho
certeza que, mais cedo ou mais tarde, o próprio Lula irá confirmar tudo
isso, como chegou a fazer com o mensalão”, afirma Palocci.
O
ex-ministro ainda questiona a relação do PT com seu principal líder.
“Afinal, somos um partido político sob a liderança de pessoas de carne e
osso, ou somos uma seita guiada por uma pretensa divindade? Chegou a
hora da verdade para nós”.
Outro lado
Para a
defesa do ex-presidente Lula, os “ataques inverídicos” contidos na carta
de Palocci ao PT são uma tentativa do ex-ministro de facilitar a
assinatura de acordo de delação premiada. Em depoimento ao juiz Sérgio
Moro, responsável pelos inquéritos da Lava Jato na primeira instância,
Lula afirmou que o ex-ministro da Fazenda de seu governo mentiu para
conseguir os benefícios de uma delação premiada. O ex-presidente disse
ainda que teria ficado “com pena” de Palocci. (Agência Brasil)